sábado, 18 de dezembro de 2010

História de um acidente

No dia 22 de dezembro do ano passado eu e meu marido sofremos um acidente de carro. Esse texto abaixo foi escrito por meu pai Daniel, um dia após o acidente para retratar nossa angústia e o descaso de alguns. Resolvi colocar o texto no blog para chamar sua atenção! Leia e agradeça a Deus todos os dias por sua vida... 

TRÁGICOS PRESENTES DE NATAL

No dia 22 de dezembro do ano de 2009, minha filha Juliana e meu genro Luiz Otávio, residentes em Brasília, iniciaram viagem para nossa cidade de Jaú, SP. para passar as festas de final de ano. Carro revisado, duas malas de roupas, uma mochila com presentes, lap top e a pequena e engraçada cadelinha Chica em sua caixinha. Pela longa distancia a ser percorrida, Juliana combinou com sua mãe que, a cada duas horas, ligaria informando onde e como estava. Saíram às 6 da manhã e às 8 horas ocorreu a primeira ligação: Mãe, estamos em tal lugar e está tudo bem. Às 10 horas, outra ligação: Mãe, estamos em tal lugar e eu comprei aquele queijo que você tanto gosta, a Chica está meio zonza, é a sua primeira viagem de carro. Ao meio dia ninguém ligou. Às 12,30 horas, meu filho Fábio recebe uma ligação em seu celular: É o Fábio? Sim. Você é irmão da Juliana? Sim, por quê? Aqui é a Sandra, assistente social do Hospital de Clínicas da cidade de Uberlândia; sua irmã e seu cunhado sofreram um acidente na estrada; é bom você avisar os seus pais e viram para cá. Mas, Sandra, como eles estão? Estão vivos, não correm risco de morrer, estão internados fazendo exames, mas venham logo. Pânico total, correria geral, dois carros na estrada em desabalada carreira para cobrir os quase 500 quilômetros de distancia de Jaú até lá. No caminho passam pela minha cabeça todos os pensamentos e todas as conseqüências que um acidente de estrada pode causar. Peço a Deus que os proteja. Mas, o que aconteceu? No trecho Araguari – Uberlândia, no estado de Minas Gerais, na pista simples, numa curva perigosa, um caminhão baú, carregado, perdeu o controle na descida, não se sabe se por defeito mecânico ou imperícia de seu condutor ou pela precariedade da péssima estrada toda esburacada, tombou de lado, atravessou a pista e bateu violentamente no Honda Fit, jogando-o numa ribanceira de pedras de 25 metros de profundidade, capotando-o várias vezes e se imobilizando num riacho, com as quatro rodas para cima. Se desse mais uma capotada teria caído num lago. Juliana, desesperada, chamava pelo marido que respondeu na hora; estavam machucados, mas tinham todos os sentidos funcionando. Ela saiu do carro pelo buraco do vidro da porta traseira, arrastando-se nos cacos de vidro e lama, enquanto a água do riacho entrava. Luiz Otávio saiu pelo outro lado. Sentados no chão se abraçavam e choravam, não acreditando no que tinha acabado de lhes acontecer. A cadela Chica, assustada, saiu correndo pelo mato. O caminhão tombado ainda bateu em outro carro, um GM - Celta. Outros motoristas que viram o acidente pararam seus veículos, mas não podiam descer a ribanceira por se tratar de local de difícil acesso. Alguém chamou a Policia Rodoviária Federal e o Corpo de Bombeiros e este chegou rapidamente. Removidos e levados à beira da pista iam ser embarcados na viatura quando Juliana avisou aos socorristas: Moço, eu tenho um cachorrinha de estimação, muito pequeninha. Por favor, pegue-a para mim, pois não posso abandoná-la aqui. O chefe dos bombeiros, um senhor gordo esbravejou: “Moça, nós estamos aqui para salvar vidas e não para correr atrás de cachorro! Entre logo na viatura.” Mas, moço, o senhor está vendo que nós estamos bem, pelo menos aparentemente; por favor, peça para alguém procurar, ela não pode estar longe, pois é muito novinha.” Olha senhora, o que eu tinha que falar eu já falei, entre logo na viatura ou vou largá-la aqui na estrada e não me responsabilizo pela sua saúde.” Novo choro, de inconformismo. Naquele momento, Juliana teve a sensação que estava perdendo a pequena Chica, que poderia estar pertinho. Não era possível acreditar que o comandante do Corpo de Bombeiros, que comandava as duas viaturas no local, pessoa de curso superior, homem treinado para atender pessoas fragilizadas por causa de acidentes automobilísticos, ao invés de cumprir sua função humanitária, estivesse sendo tão grosso e malcriado daquele jeito. Juliana, pessoa enérgica e determinada, não deixou por menos: tascou-lhe uns palavrões. Quando Luiz Otávio entrou na viatura, preocupado, pediu ao mesmo comandante gordo: Moço, nós temos muitas coisas no carro, alguém vai tomar conta? E veio a resposta: “Filho, fique tranqüilo, a Policia Rodoviária Federal está aí e vai tomar conta de tudo, pois é sua obrigação.” No Hospital de Clinicas foram bem atendidos, passaram por exames clínicos e radiológicos e ficaram em observação até o final da tarde quando cheguei ao local, com minha mulher, meu filho e o pai de Luiz Otávio, vindo às pressas de Franca. Liberados pelo hospital, pensamos em procurar um hotel para que o casal pudesse se recompor e descansar . Para isso era necessário buscar as malas. Fomos ao pátio do Auto Socorro Triangulo e chegamos no exato momento que o guincho trazia o carro todo arrebentado, com perda total.Ali não havia bagagem nenhuma. Fomos então ao posto da Polícia Rodoviária Federal, no trecho Uberlândia-Araguari, responsável pelo trecho do acidente. Ao chegar não pudemos entrar na sala de atendimento pois o policial Ciuffa ficou de pé na porta, com os braços cruzados, nos olhando. Perguntamos pelo policial Denis, que havia estado no hospital coletando os documentos do motorista e passageiro. “Ele está ocupado, mas qual é o seu problema?” Nós viemos buscar a bagagem do casal que se acidentou hoje ao meio dia na curva do Rio das Velhas. “Aqui não tem bagagem nenhuma.” Mas, policial, o senhor não esteve no local do acidente? Não é de praxe a Policia Rodoviária fazer a preservação do local e proteger o patrimônio das pessoas envolvidas? “Não, o senhor está enganado. Nós estivemos no local, fizemos o boletim de ocorrência e fomos embora. Não temos obrigação de tomar conta de nada.” Mas, policial, o senhor tem certeza que é assim mesmo, os acidentados vão para o hospital e seus pertences ficam ali, abandonados? “Sim senhor, não é nossa obrigação”. Policial, eu vou perguntar pela terceira vez: eu moro no estado de São Paulo, que possui a melhor Policia Rodoviária do Brasil e lá, eles fazem essa preservação, não deixam ninguém se aproximar dos veículos, se não foram autorizados. “Pois eu vou responder pela terceira vez: Nós não temos nada a ver com isso. Quem chegou primeiro ao local foi o Corpo de Bombeiros. Por que o senhor não vai lá cobrar isso deles?” Resolvemos fazer isso. No caminho de volta, ao passar pelo local do acidente havia chegado outro caminhão e estacionado ao lado do caminhão tombado, recolhia a sua carga e usando uma parte da pista. Era começo da noite. Não havia nenhuma sinalização, nem por viatura, nem por galhos de árvores, nem tochas de fogo, nem uma pessoa com lanterna ou bandeira vermelha. Absolutamente nada. E os policiais Denis e Ciuffa, descansando em seu posto, há poucos quilômetros dali. Havia risco de ocorrer novo acidente, mas, fazer o quê ? Chegando ao Corpo de Bombeiros fomos atendidos pelo Major Nivaldo, este sim policial à altura de seu cargo. Gentil, educado, falando baixo explicou-nos a sistemática operacional dos socorristas do Corpo de Bombeiros e nos garantiu que cabe à Policia Rodoviária Federal preservar o local do acidente , os veículos e seus pertences. Diante de todas essas informações, frustrados em nossas expectativas, resolvemos ir para o hotel e ali presenciei um dos espetáculos mais tristes da minha vida: Juliana e Luiz Otávio adentram ao saguão do Hotel São Diego, descalços, (perderam os sapatos) sujos de lama e sangue, tristes, cabisbaixos, assustados, ela chorando, sem malas, sem computador, sem sua mochila de presentes e ainda por cima, sem a doce Chica. Tudo lhes foi furtado. Não tinham absolutamente nada. Foram totalmente abandonados pelas autoridades. Foram rebaixados e reduzidos ao nível mais baixo do ser humano. Se seus parentes não estivessem ali, o que iriam fazer? Tiveram que emprestar as roupas de reserva que levamos para nós, pois não tinham o que vestir. Mas, por outro lado, estavam milagrosamente vivos por obra divina. Deus olhou para eles e seus Anjos da Guarda os protegeram. Quando parei no local do acidente, retornando do posto da Policia Rodoviária Federal e comentei com outros motoristas o ocorrido ouvi o seguinte relato: “moço, liga não, a polícia da estrada é tudo ladrão. eles fala que ganha pouco e achaca nois motorista e roba os acidentado, não tem jeito”. Verdadeiro absurdo. Recuso-me a acreditar que isso seja verdade, pois não é possível que a autoridade constituída para proteger o orientar os viajantes praticasse atos de tamanha desumanidade e selvageria. Afinal de contas, pelo que sei o policial rodoviário federal não ganha tão pouco. Estou escrevendo esta carta para desabafar e demonstrar o meu inconformismo com esse estado de coisas. Então devo aceitar que é assim mesmo, que não tem jeito ? Que pessoas, vítimas de acidente, fragilizadas naquele momento de infortúnio, às vezes com vitimas fatais sejam saqueadas exatamente por aqueles que têm obrigação de protegê-las? Absolutamente não. Vou acionar todas as autoridades que possam ter envolvimento com o caso. Exijo satisfação dos Governo Federal e do Estado de Minas Gerais. Assumo total responsabilidade por estas declarações e desafio o governo mineiro a provar que estou errado, ou que estão errados os motoristas que assim o disseram, pois pedirei desculpas públicas. Peço aos amigos que divulguem este triste episódio e acrescentem outros fatos de seu conhecimento naquelas estradas. Alerto a todos os que precisem viajar pelo estado de Minas Gerais para que tenham cuidado com suas péssimas estradas, todas esburacadas, demonstrando descaso de seu governo e me ocorre perguntar: para onde vão as centenas de milhões de reais de verbas federais específicas para isso? POBRE MINAS GERAIS.


Por: Daniel Caetano Cestari – advogado – Jaú, SP.
Ordem dos Advogados do Brasil n. 30.563

O carro em que viajavam Juliana e Luiz Otávio foi jogado para fora da pista por um caminhão desgovernado num dos pontos mais críticos da BR-050, entre Araguari e Uberlândia, e caiu de uma altura de mais de 20 metros, numa ribanceira à beira do Rio Araguari
(Foto: Jornal Correio de Uberlândia)






 O honda fit possui barras de proteção lateral, que garantiram a integridade do motorista




 Com o capotamento o teto do passageiro afundou, mas Juliana estava no banco de trás deitada com a cachorrinha Chica


A cachorrinha Chica desaparecida

 
O casal Juliana e Luiz Otávio

2 comentários:

  1. Que Deus continue sempre protegendo vocês...!!!

    Fernando Cravos.

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  2. Ju, o pesadelo passou e felizmente não deixou marcas; apenas lembranças ruins de um dia que poderia ter sido muito pior do que foi. Que tudo sirva de aprendizado para nós, que sentimos a dor na pele. Beijão da Warda.

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